quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Jesus, Pedro e o amor restaurado



amor“Jesus aproximou-se, tomou o pão e o deu a eles, fazendo o mesmo com o peixe. Esta foi a terceira vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois que ressuscitou dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, você me ama realmente mais do que estes? ” Disse ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse Jesus: “Cuide dos meus cordeiros”. Novamente Jesus disse: “Simão, filho de João, você realmente me ama? ” Ele respondeu: “Sim, Senhor tu sabes que te amo”. Disse Jesus: “Pastoreie as minhas ovelhas”. Pela terceira vez, ele lhe disse: “Simão, filho de João, você me ama? ” Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez “Você me ama? ” e lhe disse: “Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Cuide das minhas ovelhas.
 
João 21.13-17
 
Jesus realmente foi uma figura encantadora. Seus encontros com as pessoas são impressionantes e transformadores. Acolhia o desprezado, amava o invisível para a sociedade, valorizava o pobre, dava atenção para o desconsiderado e exortava o religioso. Em cada encontro, suas palavras, gestos e ensinamentos nos ensinam muito sobre o caráter de Cristo, e assim, como deveria ser o nosso.
 
Este encontro com Pedro relatado na passagem acima foi um momento chave para o ministério do discípulo. Após Pedro ter presenciado a cura de sua sogra, ter andado por sobre o mar, ter participado da pesca milagrosa, ter afirmado “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16) e ter acompanhado tão de perto o ministério e a conduta de Jesus, ele nega a Cristo. A cena era terrível!
 
Após uma madrugada de agonia, Jesus é entregue aos seus algozes, que agora o julgam, e a possibilidade de sua morte é iminente. Seu mestre parece estar agora numa posição de grande fragilidade, e Pedro fica confuso e com muito medo. Espreitando toda aquela cena, as pessoas o reconhecem e o apontam: ele também andava com Jesus. Pedro nega a Jesus, não uma, mas três vezes seguidas antes do galo cantar.
 
Passado todo o terror do luto, da perda e da morte, se espalhava a notícia de que Jesus havia ressuscitado, mas imagino que Pedro sentia um aperto gigante no coração por se lembrar que havia traído seu mestre, por quem ele achava que chegaria a dar sua própria vida se fosse preciso. Imagino a frustração que ele trazia consigo mesmo, lembrando do tamanho de sua fraqueza (logo ele, tão seguro de sua força!) e a vergonha de olhar novamente para o mestre, que sabia de tudo aquilo.
 
Talvez se Pedro tivesse uma mentalidade meritocrática, imaginaria que tudo que ele merecia era o desprezo de Jesus, e assim, com este castigo, talvez ele se sentiria até mais aliviado de sua culpa. No entanto, Jesus o abordou de um jeito tão diferente do que esperaríamos!
 
Jesus chamou os amigos para uma refeição. Neste ambiente, Jesus inicia sua conversa com Pedro. O primeiro “tu me amas?” de Jesus deve ter soado duro no coração do discípulo. Este, outrora sempre tão pronto e decidido a responder, agora parece falar com voz e olhos baixos: “sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. O reconhecimento da sabedoria e da onisciência do Deus Filho parece fazer parte do discurso de alguém que foi impactado em seu orgulho. Jesus pergunta usando a palavra “agape”, que seria um amor completo, perfeito, infalível, mas Pedro responde usando a palavra “phileus”, que corresponde a um amor limitado, com possíveis falhas. Que mudança, não?
 
A segunda pergunta deve ter feito Pedro pensar e sondar seu coração. Ele responde novamente com um verbo diferente do que foi perguntado. Já a terceira pergunta deve lhe ter arrancado lágrimas. Certamente a lembrança das três negações ficava bem clara agora, e a resposta continua: “sim, senhor, tu sabes de todas as coisas, tu sabes que te amo” (agape). Sua percepção de amor foi restaurada por Cristo.
 
Por três vezes, Jesus ordena que Pedro apascente seu rebanho, deixando claro que o discípulo não deveria desistir de seu ministério por causa de seu erro. Ainda, ao final de sua fala, Jesus dá novamente a ordem que iniciou o chamado do apóstolo: “segue-me”.
 
O que mais me impressiona nesta passagem é que, apesar da dureza de ser negado, Jesus não olhou com olhar de condenação e julgamento para Pedro. Eu imagino seu olhar de amor e acolhimento, restaurando a auto-estima e o ministério de seu discípulo.
 
Como nós procedemos quando alguém nos fere? Será que temos a postura parecida com a de Jesus – de reconciliação e amor – ou lidamos de forma áspera e cheia de ódio com o próximo? Vamos aprender a olhar como Jesus. Abaixo um trecho da música La mirada, de Santiago Benavides, que nos ajuda no exercício de imaginarmos o olhar de Cristo.
 
 
 
(…)
 
para aquel hombre malvado que fue un niño maltratado
 
imagínate como mira Jesús
 
Si Él mira con el amor con que un padre mira a un hijo
 
y mira viendo la historia que hay detrás,
 
si Él mira con el perdón que costó su sacrificio
 
 
 
imagínate… imagínate, imagínate como mira Jesús
 
Cuando haya quien te asuste, te incomode o te disguste,
 
cuando creas que alguien no merece amor,
 
cuando sientas que encontraste a quien mirar con desprecio
 
imagínate… imagínate como mira Jesús
 
imagínate… imagínate, imagínate para que así mires tu.
 
 
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Ana Cláudia Nunes

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